TUDO É POSSÍVEL DEBAIXO DESSE SOL


Na continuidade da gestão, começaram a cair na rede estendida, dentro da Ridan, os velhos companheiros da área bancária. Alguns chegavam mansos, quase amorosos, com tapinhas nas costas, já escolados, serpenteando por onde pudessem visar o futuro bote.


A esse tempo, a Fundação já contava com prédios próprios, todos com projetos desenvolvidos e outros ainda sendo gerados pela divisão de Gabriel. Aliás, ele participara ativamente dessa estruturação toda, a qual, antes da sua chegada, inexistia.


Tinha orgulho do feito, havia participado de maneira efetiva desse processo o que fez com que as áreas afins contassem com equipamentos de ponta, dentro das especificações escolhidas por eles mesmos e adquiridos via licitações internacionais, coordenadas e desenvolvidas sob o setor de sua responsabilidade.


Pouco antes da mudança para a nova sede, Gabriel tomou conhecimento por informação vinda do seu pai:


-Filho, Jofre me ligou e pediu meu comparecimento na Ridan, alegou ser assunto de origem pessoal. Também disse que não gostaria de ir ao Banco, por ter sido o ex-presidente, seria constrangedor.


Numa manhã, Baptista entrou na área do carpete, zona de conforto de Jofre, e, depois das atenções pertinentes, ele lhe fez um pedido:


-Costa, venho solicitar a você que dê boas vistas a um pedido meu.
Silencio desagradável na sala.


-Peço que considere a possibilidade de promover fulana de tal - amante de Jofre de muito tempo e funcionária do Banco.


Tal fato era de conhecimento geral, incluindo sua própria esposa, sendo o caso tratado de forma descarada, já que até os funcionarios menos graduados faziam comentários picantes a respeito.


A descarastes era tanta que essa "protegida" utilizava carro e motorista do próprio Banco para fins particulares.
Batista respondeu:


-Caro Jofre, como você mesmo sabe, apesar do meu cargo, esse tipo de promoção é levado à reunião plena. Portanto, até certo ponto, independe de mim. Mas, vou tratar do assunto com a máxima atenção.


Baptista pediu o prontuário de Lucrecia Valadares, tinha uma péssima ficha. Inclusive, na gestão passada, a moçoila havia sido injustamente agraciada com varias promoções, em outras palavras, ela havia recebido tudo o que uma abertura de pernas podia de bom lhe propiciar.


Antes de levar a assunto à plena, ainda conversou com o presidente, alegando que seu filho atualmente trabalhava sob o jugo de Jofre.


Portanto Gabriel poderia eventualmente sofrer alguma sanção. Ambos consideraram, erroneamente, que tal atitude vingativa seria de tamanha baixeza, que deixaram de lado essa possibilidade.


Decisão final: Lucrecia não recebeu as benesses.


Passadas umas duas semanas, com a Fundação já instalada em sua nova sede, houve a demissão de oitenta funcionários.


Gabriel, tendo amizades no jurídico e departamento pessoal, tomou ciencia de que seu nome estava incluído no corte. Uma amiga, com acesso à lista, deu-lhe a informação, mas não quis manifestar verbalmente, suas lágrimas disseram tudo.


Em pânico, ele correu para sua nova sala que, em breve, seria ex-sala e, com a ajuda da secretaria, colocou suas coisas numa caixa, desceu para a garagem e pôs tudo no porta-malas.


Foi quando, tudo começou a parecer como acontecendo num filme que rola em câmara lenta.


Ao sair da sua vaga o carro foi impedido momentaneamente, mas teve a duração emocional de horas: um veículo bloqueou a passagem, pois trazia um senhor cabisbaixo com uma movimentação limitada da perna.


Recebeu ajuda para chegar ao elevador, além da bengala que o equilibrava.


Sentiu que aqueles instantes trucidastes levaram "horas" de desespero, suava em bicas, mesmo sendo a garagem coberta e em andar subterrâneo.


O rapaz que cuidava do estacionamento tirou o Maverick do local e liberou a passagem para a passagem do Passat de Gabriel, que atravessou a porta automática e, estando quatro metros à diante, pelo retrovisor, a viu sendo fechada.


Naquele dia, setenta e oito funcionários receberam o bilhete azul. Gabriel e um outro que faltara, escaparam, pelo menos naquele dia.


O senhor que lhe bloqueou a saída com o carro, subiu o elevador e o chamado que recebera nada mais era para oficializar seu desligamento.


Entretanto, seu estado físico físico, com certeza fez com que a ordem não se aplicasse. Particularmente e dias após, Gabriel se sentiu feliz por este senhor, Lelis.


Naquele mesmo mês, sua filha, funcionária da Ridan, afastada por razões médicas, num momento de desespero, estando com os pais, corre para a varanda e se lança no vazio. Portanto, Lelis era ao descer do seu carro um homem alquebrado.


Gabriel se deslocou para o Centro de Treinamento, onde estava seu eletricista alemão, que lhe devia favores e o ajudou naquele momento em que o mundo despencava.


Esse homem que passava por um processo penoso devido um câncer diagnosticado em sua esposa, mantinha contato próximo com um médico amigo, e credenciado do INSS que emitiu um atestado por quinze dias.


Tempo que foi usado para curtir desespero e tentativas indiretas de solução. Enquanto isso, de forma mais ampla a mídia caia de pau sobre o ocorrido na Fundação.


Cont.....

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