Há quatro anos

– De quantas cervejas você ainda vai precisar? - Chanyeol rolou os olhos sem precisar encarar o amigo para perceber a ironia de cada palavra. Levou a garrafa até os lábios, ignorando o comentário e o fato de sua avidez por evitar o assunto apenas confirmar o ponto do outro. A festa estava cheia o suficiente para que ele conseguisse se esquivar de Baekhyun pelo resto da noite e evitar aquele tipo de intervenção, só precisava encontrar uma forma de sair dali.


– Do que você tá falando? - perguntou, uma vez que a expressão de Baek, uma sobrancelha irritantemente arqueada em desafio, deixava claro que não desistiria sem uma resposta. Uma evasiva cínica ainda era uma resposta, certo?


– Do que eu estou falando...? - a risada de Baekhyun soara tão irritante que Chanyeol não conteve o revirar de olhos, correndo os olhos pelo ambiente para avaliar suas rotas de fuga - Você é apaixonado pela garota há anos, ela termina um relacionamento que parecia mais sólido que o da família real inglesa e você realmente vai ficar a noite inteira bebendo até estar lesado o suficiente pra não conseguir trocar duas palavras com ela - ele tomou a garrafa das mãos de Chanyeol - ao invés de tomar uma porra de uma atitude quando uma chance dessas aparece?


Chanyeol massageou as próprias têmporas, deixando que o olhar flutuar livremente. Como sempre, o magnetismo de Hana o atraiu e ele a encontrou dançando consigo mesma, os olhos fechados e os cabelos em completo desalinho. A imagem trouxe um sorriso inevitável aos olhos do rapaz, e nem mesmo Baekhyun pôde deixar de sorrir: tinha que dar o braço a torcer e admitir que Channy era realmente bom quando se tratava de esconder o que sentia - lhe custara um bom tempo para arrancar a verdade do melhor amigo - mas havia momentos em que a verdade ficava tão ridiculamente estampada no rosto dele, que se perguntava como era possível que Hana não soubesse. Ou mesmo sentisse.


–Só vai, cara... - aconselhou, tocando o ombro do amigo, falando sério dessa vez - Não perde essa chance.


– Baekhyun... - Chanyeol respirou fundo, forçando seus olhos a se livrarem do magnetismo que Hana exercia sobre ele, com dificuldade - Não... Não dá. Agora não. - cerrou os olhos enquanto deixava que a cerveja descesse por sua garganta, aliviando o quão seca ela parecia diante da simples possibilidade de se aproximar dela com alguma intenção. Hana sempre foi um alvo distante, a musa inalcançável de seus sonhos, e era difícil retirá-la do pedestal depois de tanto tempo.


– Me dá um bom motivo. - Baekhyun cruzou os braços na frente do corpo, colocando-se na linha de visão do amigo, que tentava a todo custo evitar seus olhos - Chanyeol, porra, para de se sabotar! - exclamou, exasperado, diante da apatia do outro.


– Ela acabou de terminar. - o rapaz organizou seus pensamentos antes de responder. Sabia que parte daquela recusa em tomar alguma iniciativa se devia ao medo que tinha de acabar fodendo tudo e perdendo a companhia dela de uma vez por todas. Naquela noite, em especial, excepcionalmente, ele tinha argumentos - Bebeu demais, Baekhyun, olha pra ela... - suspirou, voltando a observar a garota e se surpreendendo quando os olhos dela capturaram os seus, atraindo-o com um sorriso - Ia ser muito errado fazer isso agora... - terminou, e precisou se firmar fortemente àquelas palavras enquanto assistia ao sorriso de Hana se alargando enquanto ela dava um pulinho animado, chamando-o com os braços.


– Eu admiro isso, cara, e tenho certeza de que a Hana também admiraria, se estivesse sóbria. - ressaltou - Mas hoje, se não for você, vai ser outro. - Baekhyun constatou a verdade, mas podia dizer que Chanyeol já não mais lhe escutava: como podia competir com Hana, afinal?


Chanyeol, de fato, já não tinha no amigo sua atenção: cobriu o espaço que o separava de Hana segurando um sorriso pequeno nos lábios, tentando sublimar o fato de que ela parecia dolorosamente atraente enquanto se movia ao ritmo da música, parecendo tão inconsciente do fato de ter metade dos presentes estudando seus movimentos, o que era quase cômico. E trágico, para ele e todos os outros que não ganhavam sequer uma migalha de sua atenção.


–Channy! - ela deu um pulinho, agarrando-se ao seu pescoço até que os pés saíssem do chão, entregando seu peso completamente ao braço que ele passara em torno de sua cintura a fim de sustentá-la - Eu te procurei tanto! - franziu o cenho em uma expressão divertida depois de alinhar seu rosto ao dele - Onde você estava? - perguntou, estreitando os olhos de forma cômica.


– Fugindo das lições de moral do Baekhyun. - ele respondeu com sinceridade, e a risada dela se fez ouvir por sobre a música, arrancando também um sorriso dele, que a colocou no chão a fim de conseguir concatenar as ideias, o que era impossível com Hana à tiracolo.


– Nós devíamos beber juntos! - a garota tomou sua cerveja dele, virando o conteúdo antes que Chanyeol pudesse impedi-la - Pare com a carranca, isso não fica bem em você, Channy. - ela sorriu, tocando o ponto entre suas sobrancelhas, e ganhando um sorriso pelo quão compenetrada parecia em acertar o lugar correto. Ele podia ver graça em toda a situação, mas a desinibição extrema de Hana aliada à forma como ela claramente não tinha total domínio de si fortaleciam sua convicção de que aquela definitivamente não era a noite. Se é que haveria 'a noite', em que ele finalmente 'criaria culhões', como Baekhyun costumava dizer, para dar o primeiro passo em direção a algum lugar.


– Nós devíamos pegar alguma coisa pra você comer... - ele não conteve a o sorriso diante da carranca adorável que tomou conta do rosto da garota frente àquela sugestão que, ele tinha certeza,ela considerava tão entediante.


– Chato. - ela respirou fundo, sem conter um sorriso quando Chanyeol beijou sua testa.


– Chata é você. - ele murmurou, e seu olhar denunciava quão pouca verdade havia naquelas palavras. Andando de costas, a fim de se divertir um pouco mais com a imagem tão frustrada da garota, completou - Eu já volto.


– É melhor me trazer álcool! - ela gritou, indignada, e o rapaz não conteve uma risada enquanto procurava pela cozinha na casa em que acontecia a festa onde, pensando melhor, ele não tinha ideia de como fora parar. Baekhyun, é claro.


Desviando de vários colegas surpreendentemente mais embriagados que ele próprio - e que ele se lembrava apenas vagamente de já ter visto no campus da faculdade - enfim chegou, aos tropeços, até a cozinha. Precisou pedir licença a um casal de calouros que se agarrava sobre a bancada para alcançar os armários e surrupiar para Hana um pacote de salgadinhos e estava pronto para voltar para a garota quando foi pego em uma conversa longa com alguns colegas de turma sobre qualquer assunto desimportante. Aquele era um problema recorrente, que tanto Baekhyun quando Hana costumavam lhe apontar: Chanyeol simplesmente não sabia ser minimamente mal educado com quem fosse. E ali, ainda que não quisesse sustentar a conversa, ele se forçou a sorrir e interagir por alguns minutos antes de encontrar uma brecha plausível para voltar à sala.


A expressão de Baekhyun foi a primeira coisa a lhe alertar sobre a verdadeira bagunça que seu coração estava prestes a se tornar: não era um 'eu te avisei' arrogante. Não, era pesar: pena de Chanyeol, e raiva de si mesmo por ter sido tão lento em impedir aquela situação de merda. O modo como o amigo evitou seus olhos fez com que o estômago de Channy se afundasse antes mesmo de se deparar com a cena: Hana abraçava alguém, e as mãos dele descansavam preguiçosamente na cintura da garota. Era MinHo, como Chanyeol não demorou a reconhecer: o veterano cujas habilidades detrás das câmeras eram questionáveis mas que, diziam as línguas femininas do campus, era bonito o suficiente para fazer sucesso em qualquer tela de cinema. Tão previsível que poderia ser cômico, se não fosse sua pequena tragédia pessoal.


O que quer que MinHo tenha dito no ouvido da francesa claramente surtiu efeito, uma vez que os lábios de Hana se partiram em um sorriso enquanto envolvia o pescoço dele com os braços. Naquele instante, Chanyeol precisava concordar com Baek: era um especialista em auto-sabotagem. E, aparentemente, também em masoquismo, já que seus reflexos foram lentos a ponto de não impedi-lo de ter a visão exata do momento em que Hana uniu seus lábios. Não ele, ela

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